Análise de Veleiros, Canções do Amazonas, Villa-lobos
Veleiros, Quatro Canções da Floresta do Amazonas, H. Villa-Lobos:
Villa Lobos compôs “Veleiros” em 1957, dentro de um conjunto de peças chamado “Floresta do Amazonas” para a MGM Films no filme “Green Mansions”. De acordo com Antônio Carlos Jobim, que encontrou Villa Lobos no Rio naquele mesmo ano, “Villa Lobos não se prendeu ao roteiro e história do filme, mas apenas sugeriu seu humor e atmosfera, transmitindo alegria, ansiedade, assim como serenidade e ternura através da música”. A originalidade das peças de Villa Lobos é visível em sua orquestração de acompanhamento, especialmente em algumas peças em que o violão é tocado em contraponto com a voz.
Neste link abaixo há um áudio muito interessante de Villa em uma rádio nos EUA:
http://conteudo.ebc.com.br/portal/projetos/2014/villalobos/
Villa se tornou um maestro de reconhecimento mundial, dirigindo mais de 80 orquestras em 24 países.
Neste aúdio, que hoje faz parte do acervo da Rádio MEC FM do Rio de Janeiro, o ano era 1957, os últimos da vida de Villa, morto em 1959. O local é Bear Mountain, no Harriman State Park, estado de Nova York, Estados Unidos. Cenário de uma apresentação de Heitor Villa-Lobos, num festival que acontecia por lá. Desde o primeira edição do evento, em 55, ele tinha lugar cativo para reger orquestras, mas aquela era a primeira ocasião em que Villa-Lobos executaria um repertório todo seu. Antes da apresentação, o maestro concede entrevista ao repórter José Roberto Dias Leme, um dos fundadores do “Voz da América”, programa pioneiro do serviço americano de rádio em língua portuguesa (criado em 1941 e extinto em 1981).
Villa-Lobos comenta assuntos da época, saúda o povo brasileiro, declara amor à terra natal – o Rio de Janeiro – e conversa com o jornalista enquanto, ao fundo, a orquestra ensaia a apresentação de logo mais. No áudio que hoje faz parte do acervo da Rádio MEC FM, Villa desmistifica o processo de criação. “Esse negócio de vir inspiração não existe em mim. Eu nasci inspirado já. Ou faço uma boa coisa, ou faço uma porcaria. Mas esse negócio de eu procurar inspiração, deixar crescer cabeleira pra ter inspiração, beber, isso não existe em mim. Eu escrevo quando é preciso”.
Heitor Villa-Lobos é reconhecido mundialmente como o maior compositor brasileiro no campo da música de concerto. Mesmo tendo estudado na Europa e composto sinfonias, óperas e quartetos, era apaixonado pela música popular brasileira, tendo percorrido o país anotando canções folclóricas, cirandas, cantos de trabalho, sambas e choros.
Suas peças para violão são uma tentativa de síntese entre o mundo da alta cultura e da musicalidade de extração popular. De forma engenhosa, ele intuiu que as linhas de baixo do choro tinham a ver (e a ouvir) com a estrutura básica da música ocidental, sintetizada por Bach. Daí surgiram as Bachianas, cujo exemplo mais célebre talvez seja a Ária da Bachiana n. 5, onde os violoncelos simulam, com um pizzicato, a “baixaria” típica dos violões seresteiros.
Modernista de primeira hora, Villa-Lobos gostava de cinema. Foi um dos primeiros compositores brasileiro a compor trilhas especialmente para a arte “industrial” do século XX. A peça “Descobrimento do Brasil” foi encomendada pelo cineasta Humberto Mauro, em 1936, e apresentada no Festival de Veneza dois anos depois. Villa participou inclusive do filme Alô, Amigos, de Walt Disney, em 1940.
Nos anos 50, recebeu a proposta de compor a trilha do filme Green Mansions, de Mel Ferrer, estrelado por Audrey Hepburn. O filme, inicialmente previsto para ser dirigido por Vincent Minelli, foi um fracasso. As peças do brasileiro foram muito cortadas, e a canção principal ficou a cargo de BronislawKaper. Insatisfeito, Villa reaproveitou os temas na cantata A Floresta do Amazonas.
A composição possui um acompanhamento ritmado e que forma um contraponto extremo com a linha melódica em se considerando que a mão direita do pianista toca 6 tempos, com contagem binária, com acentuação no segundo e quinto tempos, levando na mão esquerda a subdivisão ternária do compasso 12/8 com quatro tempos básicos, isso enquanto a voz parece seguir uma divisão ternária com quatro tempos mas com uma contagem facilitada em 2. A tonalidade é Fm, com passagens eventuais para colorir a harmonia e as partes são divididas em ABA. A peça possui legatos longos e pede uma sutileza na voz que traga a sensação de tristeza pela perda do amor. Seu ápice está na sua parte B.
LETRA
- Velas no mar
- Vão deixando passar
- A tarde anil e outras ondas vêm me levar
- Ah
- Sempre existe na mágoa doce murmúrio de um triste amor
- Ah
- Quanta tristeza
- Ondas do mar, Neste vai e vem, Sem me levar
- Pois sempre eu fiz, Muita atenção, Em não pisar
- Teu coração
- Ah
- Longe no céu
- Vai a onda jogar
- Tudo que é meu dentro do mar, Sem me esperar
- Ah
- Lua, lua branquinha, lua crescente vem devagar
- Ah